quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Abydos e zona de guerra (12/10)

Acordamos cedinho, fizemos checkout do cruzeiro e fomos para o dia adicional de tour que contratamos. Às sete e meia já estávamos pegando a estrada rumo a Abydos, três horas de viagem. Estrada esburacada, van quicando, sol ainda gerenciável.

Quanto mais nos aproximávamos de Abydos, mais aquilo ficava com cara de zona de guerra. Foram incontáveis checkpoints, nos quais sempre perguntavam ao motorista de onde éramos - quando o motorista respondia "do Brasil" os guardas davam um sorrisinho, não sei se de solidariedade ou de ironia (tipo "o que é que esses malucos vieram fazer aqui" ?). Em alguns checkpoints ficamos parados durante um tempo razoável, e no último deles tivemos que aguardar que outros carros / ônibus de turismo nos alcançassem para que fôssemos em comboio para o templo. E esse comboio não foi piada não, foi pra valer. Ia um caminhãozinho com um monte de policiais com caras de meninos, e nós e os outros dois ou três veículos de turistas malucos atrás.

Abydos fica fora do circuito turístico básico do Egito, e eu quis lá por causa das cores que ainda estão presentes nos desenhos (até esse dia só tínhamos visto os desenhos em relevo nos templos, mas quase sem cores). Não sou fresca ou medrosa quando viajo, mas confesso que depois do terceiro checkpoint comecei a ficar tensa. Mas tudo deu certo.

Chegamos no templo por volta das dez e meia. Por fora não é nada demais, mas é importante dar um contexto : o templo começou ser construído por Seti I e foi concluído por seu filho, Ramses II.



Se tornou um lugar para culto de Osiris, o deus dos mortos, marido da Isis e pai do Horus. O local abaixo fica atrás do templo, e dizem ser a tumba de Osiris.



A fachada do templo tem uma série de pilares retangulares com desenhos de Ramses II (sempre ele) dando as boas vindas a Osiris, Isis e Horus.



A parte interna do templo é que é um show, começando pelo corredor onde estão as cartouches com os nomes de batismo e de coroação de todos os reis do Egito, à exceção de três : Hapshepsut porque era mulher; Akhenaton porque era herege (cultuava um só deus - Aten); e Tutankhamun porque era pirralho. Não deu pra tirar foto do corredor inteiro (as fotos nesse templo ficaram um pouquinho prejudicadas pois não se pode usar flash), mas dá para ter uma noção das inscrições pela foto abaixo.



Os desenhos e relevos coloridos são fantásticos, e realmente emocionantes. Abaixo, por exemplo, se vê um dos diversos "nichos" existentes no primeiro hall de colunas do templo.

                     

O "teto" de cada um desses nichos (provavelmente altares para cada um dos deuses) é decorado com o céu estrelado, uma das formas assumidas pela deus Nut (Noite).



A segunda sala com colunas é a mais impressionante do templo, onde as cores dos desenhos e relevos estão mais bem preservadas.

                 

                 

Abaixo, o faraó (Seti I) fazendo oferendas para Horus, o deus falcão.



Uma outra cena famosa registrada no templo é a do pilar Djed. Aqui se vê  faraó Seti I recebendo o pilar de Osiris. Este pilar (chamado Djed) é uma das representações do mito de Osirís -  é a espinha dorsal dele, e representa estabildade. Era um dos três símbolos que um faraó podia ter - Ankh (a chave da vida) simbolizando a vida e a saúde, o pilar de Djed simbolizando a estabilidade e o Was (um cetro) simbolizando o poder. Ter os três símbolos significava que aquele tinha sido um bom faraó para o Egito. Ah, curiosidade : o menino ajoelhado na foto ajudando a empurrar o pilar é Ramses II, o filho de Seti I.

Uma cena que encontramos em Abydos e em vários outros templos mostra o faraó recebendo a chave da vida de algum deus. O objetivo é simples : legitimar a divindade do faraó, e os antigos reis faziam isso a três por dois. Hapshepsut (a tal rainha que era sempre representada como homem) fez isso no templo dela, afinal o fato dela ter usurpado o trono ficou um pouco esquisito para a população. Alexandre o Grande e outros gregos descendentes dele também fizeram o mesmo.

Abaixo, mas um relevo que mostra o faraó sendo abençoado por um deus - desta vez, Anubis, o chacal e deus da mumificação.

                             

Por fim, algo inexplicável. Numa das paredes da primeira sala do templo, bem pertinho do teto, vemos um desenho que inclui um helicóptero, um submarino e um tanque de guerra. Seriam os deuses astronautas ? Ou melhor, seriam os antigos egípcios alienígenas ? Ou visionários ? O mais provável é que algum engraçadinho tenha "adaptado" os hieroglifos originais mais recentemente, mas como essa explicação não é nada divertida prefiro deixar a imgainação rolar.


2 comentários:

  1. bia, que beleza!
    vc escreve super bem, com gde humor.
    igual a sua mãe.
    teresa

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  2. Horacia,

    Tô me sentindo aí !!!
    Mas mesmo assim quero ir e conferir estas cores e ver o submarino, helicoptero e o tanque de guerra...Vc nunca ouviu falar dos portais que podem ser abertos entre os universos paralelos ?? Use sua imaginação !!

    Bjs,

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