quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sakkara, Dashur e o Por do Sol nas Pirâmides (04/10)

Nosso objetivo do dia era conhecer as pirâmides de Sakkara e Dashur, cidades bem próximas ao Cairo. Como o guia nos colocou, era o nosso dia no "egyptian countryside" (aparentemente isso era pra ser um atrativo).

Primeira parada : a Pirâmide de Degraus em Sakkara. Entra-se pelo templo onde eram feitas as cerimônias mortuárias, e que ainda tem muitas das coluna originais de pé. A pirâmide é engraçada, e a mais antiga do Egito - parece meio coisa de lego, e não é enorme. Subimos até o platô de onde se vê a pirâmide, o templo dos funerais (do qual viemos) e o templo onde eram feitas as coroações dos faraós. A tumba do faraó ficava debaixo da pirâmide, a 28m do solo. Alguém achou, saqueou o tesouro e abandonou a múmia do pobre no deserto... mundo cão. Tiramos muitas fotos, depois tivemos um tempo livre para explorar o local. Quente pacas, areia mega-fininha, dei graças a Deus por estar de tênis - sapato aberto com a areia quente e suja não ia dar.

De lá fomos para Dashur, onde estão as duas pirâmides de Snofru (o pai de Cheops, aquele da maior pirâmide de Giza) - Pirâmide Vermelha e a Pirâmide Encurvada. Começamos pela pirâmide vermelha, que tem este nome pois as pedras que a compõem são...vermelhas. A pirâmide é legal, e segundo nosso guia era a melhor opção caso quiséssemos efetivamente entrar numa pirâmide, por dois motivos : tem muito menos turistas e não se paga entrada (este último ponto é muitíssimo importante em qualquer decisão egípcia). Pois bem, a entrada da pirâmide é no alto de uma escada compriiiiida e precária. Diante da falta de opções em termos de atividade (local : deserto + pirâmide e só), lá fomos nós escada acima. A escada tem duas partes : na primeira, degraus de altura razoável porém escorregadios, e na segunda degraus altíssimos e desnivelados. Uma aventura (lembrem-se do sol de rachar), mas chegamos lá em cima. Uma vista bonita e boas fotos foram a minha recompensa, já que eu não tinha a menor intenção de entrar na pirâmide dado que não deixei de ser asmática e levemente claustrofóbica de um dia para o outro.

Descemos a escada (acreditem, foi mais difícil do que subir) e fomos com a van até uma parte do deserto de onde se via a pirâmide vermelha e também a pirâmide encurvada. Essa última, segundo nos explicou o guia, foi um erro de projeção que custou inclusive a vida do arquiteto, que deve ter sido democraticamente jogado aos crocodilios no Nilo. Mas foi esta pirâmide, mesmo que torta, a escolhida para ser o lugar para o repouso final do Snofru.


Uma das coisas legais deste passeio foi ver a "fronteira" que existe entre o vale do Nilo (tudo verdinho, verdinho) e o deserto. É impressionante, como se de repente acabasse a vida e ficasse o deserto com aquele festival de templos e monumentos para a morte. Mas é um super visual.
Bom, nesta altura já era quase 1 da tarde, e nós estávamos com os coquinhos rachados de tanto sol. Fomos almoçar, num restaurante do tal "countryside" onde comemos mais ou menos a mesma coisa que no almoço do dia anterior - só que estava mais gostoso, e ainda tinha um pão pita maaaaaaaaravilhoso feito no forno a lenha local, comemos quentinho. Ah, e vendia cerveja, experimentamos a Stella (egípcia), muito gostosa - e olha que uma pessoa nascida é Praga é seletiva com cerveja !

Nota sobre o "egyptian countryside" : tirando a parte da natureza, é horroroso. As cidades são pobres pobres, uma confusão só, trânsito proporcionalmente tão maluco quanto o do Cairo (falo disso um pouco mais pra frente), sendo que nas cidadezinhas ainda tem o raio do tuk tuk, aquele mini-táxi meio ridículo que acha que é moto e sai costurando tudo. Mas não tem uma cidadezinha mais simpática, uma pracinha mais ajeitada, nada. Barra do Piraí é Los Angeles comparado com isso aqui.

Eu queria muito ver o por do sol nas pirâmides, e conseguimos algo quase perto disso. Só que antes tínhamos que fazer um pouco de hora, e aí fomos para uma coffee shop. Não tenho palavras pra descrever. "Ao ar livre" significa no meio da rua. Mas não de qualquer rua, mas sim de uma rua movimentada, poeira, areia e lixo voando e com um trânsito composto de toda a sorte de coisas - variando de ovelhas (sim, ovelhas, rebanhos) a ônibus, e passando por cavalos, charretes, burricos, camelos, motos e todos os tipos de carro. Uns caras de meia idade sentados fumando narguilé, outros falando alto (não entendo se estão brigando ou só conversando, mas é sempre alto) e nós com aquelas caras de que raios estamos fazendo aqui...

A uma certa altura a angústia de ficar ali foi maior do que a vontade de ver o por do sol, e pedi para o guia nos levar ao lugar no qual ele havia pensado. O lugar é realmente show, um plato a partir do qual se vê as pirâmides de uma perspectiva diferente - não pelo deserto, mas sim pelo vale do Nilo.

Dois comentários finais :
1) O trânsito do Cairo : indescritível. Uma bagunça. Rio de Janeiro é totalmente primeiro mundo. São Paulo é light. Aqui é coisa pra maluco mesmo. São 17M de pessoas morando aqui e mais uma população flutuante e 3M que trabalha aqui e mora nas cidades próximas. Já estamos rodando na cidade há dois dias e não vi nenhum sinal de trânsito. Não sei como eles fazem, é negociação pra tudo, entre os carros e entre carros e pedestres. Pouca ou quase nenhuma sinalização. os "veículos" incluem os animais dos quais já falei, os táxis branco e pretos (todos caindo aos pedaços), umas vans sem ar condicionado para transporte público, ônibus entupidos de gente, motos e carros de todos os tipos - vê-se BMW, Mercedes, Renault, Honda e afins, mas também vê-se muito carro cacareco com cara de primos daquele Fiat caixinha de fósforo. E todos buzinam. O tempo todo. Pi-pi-pi-pi-pi ou piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, mas buzinam. E costuram. E desviam de buraco. Tem que ter muita fé no motorista.

2) Foram dois dias de sonho. Vi coisas que nunca imaginava ver. Coisas que cá estão há muito, muito, muito, muito tempo, e é emocionante saber que estamos nos mesmos lugares que faraós e rainhas de milhares de anos atrás, e em muitos casos vendo coisas que eles viram também. Por mais piegas que possa parecer, é mágico mesmo.

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