segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Tumbas, templo da única faraó do Egito...e calor além da imaginação (11/10)

Saímos às 7:30h para o Vale dos Reis, onde ficam as tumbas dos faraós. Para isso, tivemos que atravessar o Nilo, passando para a margem oeste. O Vale dos Reis fica na margem oeste de propósito, pois é a ali que o sol se põe - sendo assim, templos de coroação e homenagem ficavam na margem leste, enquanto templos mortuários e tumbas na margem oeste.

Até hoje, 63 tumbas foram descobertas no vale, sendo que nove ou dez apenas ficam abertas para visitação num esquema de rodízio. A última descoberta e na qual ainda estão trabalhando é a que o Ramses II (aquele discretinho, do templo de Abu Simbel) construiu para os mais de 100 filhos que teve (só os meninos !) e que tem cerca de 110 aposentos. Esta tumba infelizmente não está aberta à visitação, pois é perigoso transitar por lá. Aprendi também que o barato do Ramses II era construir templos, tumba não era muito o foco dele - então mesmo tendo reinado o Egito por mais de sessenta anos, a tumba dele não é uma que valha a visita, segundo o nosso guia.

Bom, sobre a visita em si. Chegamos lá às 8, compramos um ticket no visitor center que dava direto a visitar três das 9 ou 10 tumbas abertas para público, excetuando-se as tumbas do Tutankhamun e do Ramses VI. Resolvemos não visitar a tumba do Tut, era um ingresso à parte e o que tinha de bom eram os tesouros que vimos no museu lá no Cairo. A única "atração" da tumba é a múmia, a única que ficou no Vale dos Reis e não no museu, mas como não tenho aquelas fissuras todas com Tut e as famosas maldições associadas, deixei passar. Aliás, historicamente Tut não tem nenhuma relevância. A fama dele vem mesmo do fato de sua tumba ter sido a única descoberta intacta, enquanto todas as demais tiveram seus tesouros saqueados.

Pegamos o trenzinho (tosco, tosco...) para subir a laderinha e chegar nas tumbas. Muito, mas muito infelizmente mesmo, não se pode tirar fotos no vale. Que não se possa tirar dentro da tumba acho perfeitamente razoável, para preservação da arte toda. Mas do lado de fora é incompreensível. Tentando dar uma idéia : é um lugar árido. Nenhum verdinho. Nenhuma sombrinha, fora alguns pátios construidos pros pobres turistas se recuperarem do esforço da visita. As tumbas estão de um lado e do outro, você enxerga só a portinha de cada uma onde fica o carinha que confere o ticket. Todas as tumbas são subterrâneas, algumas mais e outras menos profundas. Os corredores que levam até a tumba em si também são ricamente decorados com desenhos e gravuras.

Fomos ver primeiro a de Ramses IV. Ampla, não muito profunda, muito bonita. É lindo ver os desenhos e gravuras nas paredes devidamente coloridos. Tudo, as cartouches, cenas mitólogicas, cenas de oferendas, hieroglifos... tudo como se tivesse sido pintado outro dia, muito embora essa tumba específica tenha sido um pouco vandalizada pelos cópticos que a converteram em igreja durante um período. As cores são fantásticas, o teto é todo azul com estrelas em homenagem à deusa Nut (Noite), e na tumba está um sarcófago gigantesco feito em pedra. A quantidade de pessoas visitando a tumba é bastante grande, e o percurso é um tanto quanto quente - mas estamos no início da manhã e dá pra suportar bem.

Depois fomos na de Ramses IX, nada demais. Na sequência, fomos para a de Ramses I, que nosso guia disse ser um destaque pela questão das cores. Ele avisou que a escada seria íngreme e perguntou se teríamos algum problema, e eu só quis saber se a tumba era muito profunda (lembrem, asmática levemente claustrofóbica) - ele me garantiu que não. Bom, não sei o que esse menino considera profundo. São duas escadarias muito íngremes com degraus altos, intercaladas por duas rampas também íngremes. Cheio de gente. Um forno. Um cecê faraônico. Inferno total. Mas descemos todo o treco, vimos a tumba e subimos o treco de novo, chegando ao topo em estado lamentável. A tumba é pequena e as cores são realmente bonitas, mas a experiência "impactante" prejudica um pouco.

Por fim visitamos uma tumba extra, a dos Ramses V e VI para a qual pagamos ingresso separado. Civilizadíssima. Ampla, pouca gente (ingresso separado...), nada profunda. Achei-a maravilhosa, coloridíssima, linda e com um índice de contaminação do ar por cecê totalmente gerenciável. Melhor só se tivesse ar condicionado e esteira rolante, mas não sei porque o pessoal daqui é resistente a coisas modernas :D.

Não visitamos o Vale das Rainhas, onde por sinal também existem tumbas de príncipes e princesas. Motivo simples : não tem muita coisa pra ver. A tumba principal é a da rainha Nefertari, a adorada do Ramses II (aquele modesto), mas ela fica fechada ao público em geral. São arranjadas visitas especiais por quatro mil dólares com a duração de dez minutos, um pouquinho acima do nosso orçamento. Quando eu for velhinha e milionária, já sei o que fazer : venho pro Egito em dezembro (altíssima temporada com temperaturas mais humanas), convido uns amigos, alugo uma dahabiyas (que são uns barcos no estilo "Morte no Nilo" alugados para grupos particulares), fazemos um cruzeiro no Nilo e convido tudo mundo para ir lá dar um "alô" para a Nefertari.

Saímos do Vale dos Reis tipo dez e pouco, já fazia um sol de gente grande que torrava nossos coquinhos. Fomos então para um lugar próximo chamado Deir el-Bahri, onde fica o templo de Hatshepsut, a única mulher a governar o Egito como faraó. O cenário é espetacular, com o templo "encaixado" na rocha. Árido. Quente. Nenhuma sombrinha. Mas turista é forte, então seguimos em frente.





Resuminho rápido da Hatshepsut : casou com o irmão (Tuthmosis II), mas não teve filhos homens. Aí o irmão casou de novo, e teve um filho - Tuthmosis III, que assumiria o poder ainda criança. "Assumiria" porque a Hatshepsut não deixou - tomou o trono e governou por vinte anos, durante os quais para ganhar o respeito de todos ela sempre se colocava como homem nas pinturas e estátuas, e é isso que se vê no templo. O templo é impressionante, embora só tenham sobrado dois andares e a maior parte das figuras tenha sido danificada por um motivo curioso...

A estória é a seguinte : depois que ela morreu, o Tuthmosis III finalmente assumiu o poder. Devia ser de escorpião esse menino. Rancoroso, vingativo que só ele. O fofo simplesmente destruiu TUDO que tinha a cara da Hapshepsut - raspou o rosto de todas as pinturas, e algumas estátuas só sobreviveram porque ele deve ter passado a dizer que eram dele :). Até em Karnak ele fez das dele, conto na próxima postagem. Mas nessa brincadeira, o Tuthmosis III destruiu mais da metade dos desenhos e gravuras do templo, uma pena. Na maior parte deles ele fez questão só de raspar a cara e o nome da Hatshepsut, mas como já deu pra perceber por aqui isso dá mais da metade de qualquer templo...



Saímos do templo por exaustão diante do calor, estávamos quase em estado líquido. Antes de voltar para o barco passamos rapidamente pelos colossos de Memnon, duas estátuas gigantes que foram as únicas coisas que restaram do maior complexo mortuário da margem oeste do Nilo, o de Amenophis III.

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